Lidando com frustrações e autocontrole: um jogo sem regras.
As coisas vão sair do controle. E o que você pode fazer?
Mais uma das tantas lições que a escalada me ensinou foi entender que eu só consigo controlar aquilo que está ao meu alcance. Ou seja, o tempo, o clima, as condições da rocha, os desafios que vou encontrar em uma competição, a força da gravidade…vê como existem inúmeras coisas que não podemos controlar na vida, quem dirá no esporte?!
Quando adolescente uma das minhas maiores frustrações era planejar meu dia e de repente algo sair da rota. Excesso de controle gera estresse e faz mal. Acontece que a gente precisa ter a sensibilidade para parar e observar ao nosso redor, e entender que não podemos estar no comando de tudo, portanto, saber contornar situações, recalcular a rota ou mesmo aceitar que as coisas podem não acontecer conforme planejamos, ajuda e muito a nos sentirmos menos frustrados.
O amadurecimento que vem com o tempo
Só que para entender isso eu precisei entender um fator que já mencionei e que não tenho controle: o amadurecimento que vem com o tempo. Outro dia, em uma sessão de terapia, estávamos discutindo sobre meu desempenho nas últimas competições.
Ainda que eu continue marcando presença em praticamente todas as finais em campeonatos brasileiros e festivais, e esteja talvez no auge da minha forma física em toda minha carreira como atleta, existem fatores que estão “out of control”e fogem daquilo que há muito aprendi a controlar: meu estado emocional e a minha estratégia de jogo. E mesmo com tudo isso bem alinhado, algo pode sair do rumo e não ter o resultado que planejei.
Um dos meus mantras quando chego a uma final de campeonato, ou quando estou prestes a encarar um projeto difícil na rocha, é reafirmar para mim mesma que eu fiz o meu trabalho; eu treinei, me preparei, dormi bem, me alimentei corretamente, portanto, fiz a parte que cabe a mim.
E o que vem a partir dali, ou seja, o desempenho das minhas adversárias, os problemas inventados pelos route setters, o clima no pico que vou escalar, as condições de umidade da rocha…
Desenvolvendo nosso nível de consciência e aceitação
Isso e muitas outras coisas são fatores que eu não “alcanço”, portanto, eu não devo me responsabilizar. Nem mesmo me cobrar ao ponto do estado mental daquele dia, daquele momento, ser totalmente algo sob meu controle. Se nem isso é tão controlável assim, quem dirá os fatores externos!
Mas ok, entendido que eu não tenho controle sob aquilo que não está ao meu alcance, como mesmo assim não sentir o peso da frustração?! Eu sinto informar, mas eu não tenho essa resposta, e eu peço encarecidamente que se alguém aqui tiver, compartilhe isso com o mundo. Sentir frustração faz parte do viver. Porém, permitir que fatores externos nos tirem do controle é algo que precisamos e podemos trabalhar, desenvolvendo nosso nível de consciência e aceitação.
Focar energia em situações que não estão ao nosso alcance, ou que estamos perdendo, não colabora com a nossa evolução e nos leva a um estado emocional fragilizado.
Trabalhar essas situações e racionalizar aquilo que está acontecendo é de fato algo que me ajuda demais a lidar com essas emoções e me tornar uma pessoa e atleta resiliente. Não é fácil. Não é gostoso e precisa ser treinado, feito diariamente. Mas quando entendo que a primeira e última pessoa que precisa acreditar em mim mesma sou eu, e só eu tenho o poder de permitir ou bloquear esses sentimentos externos que não estão sob meu controle, de fato o jogo fica muito mais agradável e o desafio se torna um objetivo, e não um martírio.
Ótimas escaladas! 🌄
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