A Escalada entrou na minha vida quando eu menos esperava. Em 2008 eu conheci esse esporte que veio para mudar paradigmas. Com ela eu conheci o mundo, a vida outdoor e uma grande paixão! Existem várias analogias que podemos fazer com a escalada, mas a maior lição que esse esporte me ensinou é que não existe o impossível. Desafios estão aí para serem enfrentados e os diferentes níveis de dificuldades não podem ser intimidadores ao ponto de nos congelar ou fazer desistir.
Na Escalada eu me conectei com uma Patrícia que não conhecia ainda: a pessoa corajosa, que encara as coisas de frente, que não tem medo de errar e que curte muito o processo de aprendizado. A Escalada é para mim um esporte, um estilo de vida, um lazer e também o meu ganha pão. É o lugar que me encontro comigo mesma, concentro minhas energias e sou a minha melhor versão. É durante uma escalada em que me conecto com meu medo, mas também com a minha maior força e enfrento meus fantasmas. Escuto a minha voz interior e através da prática me aprofundo em um grau intenso de concentração que envolve raciocínio e conhecimento corporal.
“No meu caminho encontrei um dos meus propósitos: encorajar mulheres a assumirem as rédeas de suas vidas, convidando-as a se arriscarem.”
Depois de quase 13 anos escalando na rocha, treinando no ginásio e competindo, tive tempo suficiente para entender que por aqui a minha passagem tem alguns propósitos, e um deles é encorajar as pessoas, e esse não é um clubinho só para mulheres. Em 2020, em meio ao isolamento social devido a Pandemia do Corona Vírus, consegui me conectar com mulheres da escalada de uma forma muito interessante: as Lives no Instagram. No começo eu não sabia onde isso ia dar, mas a coisa foi ganhando espaço e as mulheres foram se conectando [ muitos homens também] e isso foi esclarecedor!
Eu passei a enxergar como é importante essa união, e dar força a essa voz foi algo muito importante para mim. [Fui convidada pelo SESC SP para participar de um debate e um evento online sobre escalada, um deles fui mediadora entre mulheres da escalada, no outro fui palestrante de dois dias de evento online com alunos do SESC. Foi maravilhoso. Além disso, a partir daí surgiu meu Podcast com outra escaladora fera que admiro muito, a Thais Makino. O Sitstart já está em sua segunda temporada e nele abordamos temas do Universo Feminino dentro da Escalada, é o nosso espaço de conversa e conexão!]
Mas o que é coragem?
Comecei a ver a importância da palavra Coragem. Uma palavra de significado forte e presente, que nos convida ao ato de nos arriscar. Mas o que é coragem? Não é a ausência do medo, é segurar o medo pelas mãos e ir com medo mesmo! O Protagonismo feminino é um lugar de risco, de ousadia e de desafios. Só que muitas vezes esquecemos que para viver bem precisamos nos arriscar. O risco é uma potência de vida e se não nos arriscarmos de maneira calculada, nunca saberemos se daria certo! Portanto, é preciso arriscar para viver.
As mulheres por natureza [e historicamente] são seres mais vulneráveis, mas isso não quer dizer que não possamos ser fortes e corajosas o suficiente para alcançar nossos sonhos, e eu posso dizer isso por experiência própria. Em 2017 era proprietária de uma empresa que produzia mais de 400kg de granola, sozinha no quintal da minha casa. Só que a Escalada já era minha maior motivação de vida e ganhar um Campeonato Brasileiro me mostrou que ainda que ser dona de empresa fosse grandioso, meu caminho não corria por aquele percurso.
Eu tive muito medo de desistir da minha empresa, de fracassar e de não corresponder as expectativas que eu mesma tinha sobre mim. Ainda sim, com medo e todas as outras inseguranças que vinham em minha cabeça eu enfrentei o desafio. Comigo levei a minha coragem, a minha vontade e meus sonhos. Quatro anos se passaram e meu projeto super ousado não poderia estar melhor: conquistei mais títulos, fiz viagens incríveis, ganhei prêmios e visibilidade.
Hoje tenho patrocínios da Fila e da Drogaria Minas Brasil, faço parte da Seleção Brasileira de Escalada, sou a terceira melhor escaladora de competição do Brasil e faço parcerias com marcas para criar conteúdos. Além disso, faço palestras motivacionais para empresas, uma forma linda e divertida de compartilhar minha experiência e ainda ajudar outras pessoas a correrem atrás de seus sonhos.
Mas nem sempre foi assim. Ainda que minha mãe sempre tenha me ensinado a ser independente e andar com minhas próprias pernas, fui criada em uma família que prezava por um bom casamento, uma mulher tradicional, com um emprego fixo seguro e garantido e uma vida super confortável, com vários resquícios machistas. Minha mãe sempre me apoiou, mas sempre ponderando minha coragem para ser o que eu bem quisesse. Quando decidi me dedicar exclusivamente ao esporte, mesmo ela quem sempre quis que eu fosse atleta, achou uma loucura. Fui assim mesmo e sou grata por isso!
Volta e meia eu me pergunto: que força é essa que nós mulheres não acreditamos ter e que nos desencoraja a nos arriscar? Só que eu ainda estou procurando essa resposta. A cada passo que dou ela se revela mais um pouco, mas ainda existem muitas barreiras a se quebrar. Mas de uma coisa eu posso ter certeza: O Risco é a minha maior força!